Você já ouviu falar sobre o Projeto Olha a Ilha?

É um projeto desenvolvido por pesquisadores da FURG, ligados ao PELD-ELPA e dos Parceiros do Mar (Laboratório de Ecologia e Conservação da Megafauna Marinha), que tem como objetivo a democratização do conhecimento para a sociedade, tendo como finalidade geral contribuir no processo de construção de um caráter ético, social, cultural e ambientalmente consciente de educadores e estudantes de escolas públicas de ensino fundamental da localidade da Ilha dos Marinheiros - Rio Grande (RS). Tendo como enfoque específico a disseminação de conhecimento sobre fauna e flora marinha e estuarina que podem ser observadas no litoral sul do Rio Grande do Sul e a elucidação da importância do papel da universidade pública no desenvolvimento do município, incentivando o pensamento crítico sobre os impactos da humanidade no meio ambiente.

Ao longo de 2022, foram realizadas as atividades do projeto Olha a Ilha na Escola Municipal de Ensino Fundamental Apolinário Porto Alegre (localizada na comunidade da Marambaia, com turmas de educação infantil e ensino fundamental 1) e na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Sylvia Centeno Xavier (localizada na comunidade do Porto-rei, com turmas de 6º ao 9 º ano). Por conta da sua localização, ambas as escolas têm dificuldades de participar de atividades promovidas pela Secretaria Municipal de Educação e outras atividades de educação, promovidas pela FURG, por exemplo. Em razão deste e outros motivos, o projeto visa construir uma proposta coletiva desde o primeiro contato com as escolas, contando com a participação da equipe do projeto e a comunidade, principalmente o corpo docente.

Tivemos como resultado seis encontros desenvolvidos entre os meses de abril e novembro de 2022. No primeiro encontro, realizamos uma apresentação geral da ideia inicial do projeto e equipe, com um breve diagnóstico das necessidades escolares e firmando uma parceria para a construção coletiva do cronograma das atividades. O segundo encontro, denominado “Onde estamos? E a bioconectividade”, teve como objetivo contextualizar o cenário ambiental onde as crianças estão inseridas, através de uma visão panorâmica do entorno no município de Rio Grande. Os estudantes de ambas as escolas deslocaram-se de barco da Ilha do Marinheiros até o Museu Oceanográfico Prof. Eliézer de Carvalho Rios, onde também está localizado o Eco-Museu da Ilha da Pólvora (https://museu.furg.br/). Nesta visita, nossos colaboradores parceiros do Centro de Recuperação de Animais Marinhos (CRAM/FURG) participaram apresentando seu trabalho com animais que estavam nos tanques de recuperação no momento. Como a Ilha dos Marinheiros está localizada no estuário e na cidade de Rio Grande, a visita ao mirante do Eco-Museu da Ilha da Pólvora possibilitou a visualização de algumas casas e das escolas dos estudantes e dos profissionais de educação que os acompanhavam. Para nossa surpresa, a maior parte dos estudantes e educadores nunca haviam visitado os museus. E nos agradeceram a oportunidade de conhecê-los e se reconhecer como parte importante da cidade.

Figura 1. Exemplo dos materiais produzidos pelos estudantes neste encontro. Evidenciando os animais aquáticos, aves e o barco que eles utilizaram para chegar até o museu.

 

Depois da saída de campo, o encontro denominado de “O que é a ciência; Megafauna da região”, abordamos o tema da Megafauna Marinha e a importância da ciência e do fazer científico. Focando na ecologia e biologia de tartarugas e mamíferos marinhos (pinípedes e cetáceos) que residem ou utilizam a região para se alimentar, reproduzir e descansar; entrelaçando com a discussão do método científico e que qualquer pessoa pode ser um cientista. Por se tratar de uma comunidade na qual um grande número de famílias tiram seu sustento da agricultura e/ou da pesca, no quarto encontro buscamos valorizar a importância das atividades desenvolvidas pelas famílias dos estudantes. Dentro deste mesmo contexto buscamos construir a ideia de teia alimentar dos organismos aquáticos. Tendo como um dos grupos base da teia alimentar, discutimos as funções ecológicas e econômicas do plâncton. Trazendo para o contexto educacional o personagem “Plankton” do desenho “Bob Esponja”. No sexto encontro teve como objetivo estabelecer relações entre todos os temas trabalhados ao longo do projeto, utilizando o ecossistema estuarino-costeiro ao qual fazemos parte para abordar os desafios para a conservação e possíveis ações individuais e coletivas. A atividade foi realizada simultaneamente em ambas as escolas, com a equipe se dividindo entre elas. A equipe observou que as atividades tiveram grande êxito, as turmas apresentaram muito interesse e domínio dos temas do projeto ao demonstrar os conhecimentos adquiridos.

 Figura 2. Final da Feira de Ciências com ambas as escolas. (Foto: Liane Dias Amaral)

Ao longo do desenvolvimento do projeto sentimos a necessidade de promover uma atividade de encerramento para celebrar os resultados alcançados e proporcionar um momento de encontro e troca entre toda nossa equipe e as comunidades escolar (estudantes, professores e pais). Também buscando integrar grupos da Universidade que atuam em extensão universitária, dentro de diferentes temas e que tem relação com o ambiente marinho-costeiro, valorizando a Ciência e a Educação. A Feira de Ciências foi aberta para ambas as escolas, que ocorreu no Salão Comunitário da Marambaia, em frente a EMEF Apolinário Porto Alegre. Esse encontro contou com a participação do Centro de Reabilitação de Animais Marinhos (CRAM), Laboratório de Ecologia e Conservação da Megafauna Marinha (ECOMEGA) - Instituto de Oceanografia (IO/FURG), Laboratório de Zooplâncton (IO/FURG), Laboratório de Micologia - Faculdade de Medicina (FAMED/FURG), Núcleo de Pesquisa em Microbiologia Medica (NUPEMM-FAMED/FURG), Projeto Tubarões de Mochila - Instituto de Ciências Biológicas (ICB/FURG) e o PELD-ELPA.

 

   De início o Projeto Tubarões de Mochila fizeram uma apresentação do Teatro de Fantoches “Tutu e Barão”, e com a visita especial do “Tutu”, um tubarão “com pernas” que interagiu bastante com as crianças. Depois da apresentação, eu e os outros integrantes da equipe, direcionamos as escolas para que todos visitassem as bancas de exposição de todos os projetos citados acima. Observei que as crianças se interessaram muito pelas exposições que tinham animais, tanto conservados no formol quanto representados através de crochê, desenhos e fotos, e no “Circuito do Cientista no Mundo dos Fungos” (Lab. Micologia-FAMED). Foi incrível ver os olhinhos deles brilhando ao participar da feira, podendo relembrar conceitos abordados nos encontros e matando a saudade de materiais que já tinham visto. Por fim, fizemos um lanche coletivo com eles e nos despedimos das escolas.” (Eduarda Nunes, bolsista do Olha a Ilha).

 

A construção do Olha a Ilha possibilitou conhecermos melhor uma comunidade tão tradicional e de grande importância histórica e econômica para a região, como a Ilha dos Marinheiros. Além de construirmos na comunidade a ideia da importância da comunidade e do meio ambiente ali existente (e sua preservação, é claro), o projeto também possibilitou que os estudantes em formação (graduandos, mestrandos e doutorandos) participassem de um contato direto com a comunidade. Entendendo seus problemas, buscando solucioná-los. Como disse Paulo Freire, “Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender”.

   
Notícia: Eduarda Bueno & Manuel Macedo de Souza